A criatividade está no centro da sustentabilidade, podendo ser classificada, junto com o talento humano, como um recurso renovável. Atores, músicos, designers e outros profissionais criativos têm estado na vanguarda das pautas ambientais e humanitárias defendendo e promovendo causas em todos os pilares ESG. Ao mesmo tempo, a economia criativa contribui diariamente para os problemas da sustentabilidade. Qualquer atividade criativa tem pegada de carbono, utiliza fontes não renováveis e depende de pessoas que precisam ter seus direitos respeitados.
A Economia Criativa pode ser entendida como a soma da criação, produção e distribuição de bens e serviços cuja dimensão simbólica e intangível é determinante para o seu valor¹ e que têm na criatividade o seu insumo principal. Ela é composta por um grupo de setores econômicos heterogêneos, também denominadas indústrias criativas, responsáveis pela produção de conteúdo simbólico, mas também geradores de insumos para outros setores da economia como, por exemplo, o design na indústria automotiva.
No Brasil, a discussão sobre a responsabilidade das indústrias criativas na implementação da pauta ESG ainda é tímida. Em outros países, como o Reino Unido, essa pauta já se tornou objeto de políticas públicas estratégicas. No relatório Creative Industries and the Climate Emergency, publicado em 2022², o governo britânico fez um levantamento dos riscos ligados ao ESG nas indústrias criativas e definiu metas de sustentabilidade para o setor:
Reduzir os efeitos dos gases de efeito estufa causados direta e indiretamente pelas operações e atividades comerciais das indústrias criativas;
Contribuir diretamente com habilidades, resultados e competências para a criação de produtos e infraestrutura para construir comunidades sustentáveis;
Contribuir diretamente para influenciar mudanças de atitude, comportamento, educação e envolvimento.
No Brasil as discussões no âmbito da economia criativa tendem a abordar seu relevante papel na disseminação da pauta ESG em empresas tradicionais ou em iniciativas setoriais, empresariais ou individuais pontuais. O tema é particularmente complexo pois ações relacionadas à pauta ESG nas indústrias criativas não podem ser realizadas de forma agregada. De acordo com a FIRJAN³, são treze atividades econômicas diferentes, algumas com cunho puramente cultural e outras com teor mais tecnológico. Cada uma tem estruturas organizacionais, regulações, cadeias de valor e culturas de trabalho distintas que geram impactos totalmente diferentes nos pilares ESG, e, portanto, precisam ser analisadas separadamente.
Quais são os próximos passos para incluir ações ESG nas indústrias criativas? Precisamos entender o impacto das atividades criativas no nosso meio-ambiente e identificar as principais questões para que possamos desenvolver metas e padrões específicos para o setor. Lembrando sempre que eles precisam ser definidos para incluir não apenas os grandes conglomerados, mas também as inúmeras pequenas e medias empresas que são a grande maioria dos produtores criativos.

-
¹ MINC, MINISTÉRIO DA CULTURA. Plano da Secretaria de Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações. Brasília: MinC, 2012.
² CREATIVE INDUSTRIES POLICY AND EVIDENCE CENTRE. Creative Industries and the Climate Emergency The path to Net Zero. London. Oct.2022
³ FIRJAN, FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO DE JANEIRO. A cadeia da indústria criativa no Brasil. Rio de Janeira: FIRJAN, 2008.